sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Os prazeres da escolha e a escolta do silêncio

Ouvindo a música Cálice, composição de Chico Buarque e Gilberto Gil, presto atenção na letra forte e que cantada  nos revela o quanto difícil era viver na ditadura. Não diria que era, talvez devamos dizer que ainda é. 
O que é hoje ditadura senão o fato de vivermos a mercê da perseguição política partidária? 
De vivermos a mercê de não podermos expressarmos nossos pensamentos sem as mordaças clandestinas do silêncio? Vivemos em uma sociedade dita recheada de democracia, mas que democracia? 
Se você tenta em seu cálice se deleitar, ele é banhado em ouro para uns e vento para outros. 
Se você tentar construir seu cálice, ele é de concreto para uns e de barro para outros. 
Se tentar construir sua cidadania de cálice ético, ele desmorona ao alcunhar de qualquer moeda, como se todo ser humano tivesse seu preço. 
Temos que ter só uma linha de pensamento, ou construí-lo sem importar-se se ele vai durar ou não? 
A defesa do nosso interesse deve  estar em primeiro plano, ou silenciá-lo como a ditadura fez com o som do microfone do show de Chico, no cantar da música Cálice? Qual seria mesmo o comportamento diante de uma sociedade que nos implanta a dúvida, o medo, a chacina, os assaltos, a marginalização, o crescimento dos drogados, a falta de perspectivas entre os jovens? Aqui nesse espaço daria para citar todas? Não, claro que não. E nem quero fazê-lo, pois cresce ainda mais a indignação e a revolta de que enquanto mais ano se passa mais regredimos no comportamento humano. 
Tantas formas de incentivos e no entanto o que temos é pessoas descrentes e tomadas por uma concorrência desenfreada de tomar o lugar do outro. 
Onde está mesmo o pensamento de "afasta de mim esse cálice"? Qual é mesmo o sabor da bebida para esses mercenários ocupantes do massacre embutidos nos meios sociais? Mas não digo bem vindo ao Brasil, digo bem feliz do ser humano que mesmo diante desse terror ,ainda consegue se manter de pé e tenta perceber que ele ainda é racional ,e que olhando com o coração ele possa ocupar do sentimento ou instinto do animal não pensante, que só destrói a caça se ele se servir dela, e não tornar a sua caça uma subserviência da escravidão embutida em amizade. Que cada um pense no outro com um espelho de si próprio, sem perceber sinal de qualquer diferença. E que possa entender o crescimento social como trabalho de equipe e não uma mera ocupação de poder para destruir os que discordam do seu pensamento.
Sendo assim penso que quero "cheirar fumaça de óleo diesel" e "me embriagar até que alguém me esqueça". Será que eu existo? É muita petulância de minha parte achar que algo irá mudar. 
"Silêncio na cidade não se escuta". Felizes somos deixando-os pensarem que nosso silêncio é um sim.

Maria dos Prazeres Pereira da Silva